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PERCEPÇÃO DOS VISITANTES QUANTO AO PAPEL DOS MEDIADORES NA EXPOSIÇÃO “O ADMIRÁVEL CORPO HUMANO”
Ágda da Silva Géra, Manuella Villar Amado, Athelson Stefanon Bittencourt

Última alteração: 2017-01-31

Resumo


PERCEPÇÃO DOS VISITANTES QUANTO AO PAPEL DOS MEDIADORES NA EXPOSIÇÃO “O ADMIRÁVEL CORPO HUMANO”

Ágda da Silva Géra

Instituto Federal do Espírito Santo-IFES - Brasil

agdagera@yahoo.com.br

Manuella Villar Amado

Instituto Federal do Espírito Santo-IFES - Brasil

manuellaamado@gmail.com

Athelson Stefanon Bittencourt

Universidade Federal do Espírito Santo-UFES - Brasil

athelson@hotmail.com

Resumo: A participação de mediadores em espaços de educação não formais como museus e exposições torna-se cada vez mais frequente, visto que esses espaços nos últimos anos têm assumido o papel de espaço educacional, logo a interação entre os visitantes e os objetos expostos passa a ser realizado por intermédio dos mediadores, comparada a função desempenhada pelos professores. Portanto, a importância do trabalho exercido pelos mediadores é cada vez maior, exigindo aperfeiçoamento e dedicação constante. Com a montagem da exposição “O Admirável Corpo Humano” na biblioteca central da UFES campus Goiabeiras em Vitória ES, decidimos investigar a percepção dos visitantes com relação à contribuição dos mediadores na compreensão das peças do acervo na exposição.

Palavras-chave: Mediação, Museu, Anatomia humana

Introdução

O Museu de Ciências da Vida (MCV) teve sua concepção iniciada em 2007 fazendo parte do projeto de extensão da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Durante todos esses anos vem desenvolvendo um trabalho que visa complementar e despertar o interesse dos visitantes por assuntos relacionados ao corpo humano, visto que seu acervo contempla peças relacionadas à anatomia humana.

A partir do ano de 2012, começou a ser montado junto ao MCV, o laboratório de plastinação, com o objetivo de submeter o acervo do museu ao processo de plastinação, melhorando sua conservação e facilitando o transporte das peças.

No ano de 2016, aproximadamente 40 peças anatômicas humanas já haviam sido plastinadas e compôs o acervo da exposição “O Admirável Corpo Humano”, sendo a primeira exposição com peças totalmente plastinadas no Brasil, especificamente no estado do Espírito Santo, aberta ao público, localizada na biblioteca central da UFES campus Goiabeiras, fazendo parte da extensão dos trabalhos do MCV.

Na exposição, o público em geral teve acesso a peças anatômicas humanas onde eram recebidos pelos mediadores que apresentavam o acervo e explicavam sobre a técnica da plastinação. Nesse sentido, a exposição e “o museu se constitui como um meio que propicia uma aproximação entre a sociedade e seu patrimônio cultural. Nessa perspectiva, os processos de mediação são considerados fundamentais às finalidades dos museus” (GOMES; CAZELLI, 2016, p. 26).

A exposição contou com a participação de cerca de 40 mediadores, cuja capacitação ocorreu no auditório da biblioteca central da UFES. A mediação com o publico visitante em exposições e museus é utilizada como forma de aproximação e de esclarecimento sobre o acervo apresentado.

No Brasil, a mediação humana é amplamente utilizada nas instituições museais. Atividades educativas desenvolvidas nesses espaços são geralmente otimizadas quando os mediadores tornam-se centrais para os processos de educação e comunicação com o público (BIZERRA; MARANDINO, 2011, p.2).

O pré-requisito para seleção era que os candidatos tivessem cursado a disciplina de anatomia, sendo aberto processo seletivo pelo MCV, onde a seleção ocorreu através de análise de currículo. Todos os mediadores da exposição eram voluntários, sendo estudantes de cursos de graduação de instituições públicas ou privadas, principalmente da área de biomédica. O perfil dos mediadores é representado por um público jovem que “frequentemente são estagiários ou colaboradores sem vínculo empregatício de longo prazo e, por isso, há uma grande rotatividade nas equipes, o que demanda a realização periódica de atividades de formação” (GOMES; CAZELLI, 2016, p. 27).

A capacitação dos mediadores foi conduzida pelo coordenador do laboratório de plastinação, com o objetivo de orientá-los sobre a técnica de plastinação e sobre as peças anatômicas humanas plastinadas que faziam parte do acervo da exposição.

A visita era iniciada com os mediadores falando sobre a técnica da plastinação, logo após era mostrando a peça submetida à técnica da mumificação, a peça conservada em formol e a peça plastinada para demonstrar as diferentes técnicas de conservação. Todo o restante das peças da exposição eram plastinadas e os visitantes conheciam cada uma delas com as orientações do mediador.

O objetivo da pesquisa foi investigar a percepção dos visitantes quanto a contribuição dos mediadores na mediação sobre as peças anatômicas humanas plastinadas na exposição. Trata-se de uma pesquisa qualitativa que assumiu a forma de estudo de caso, onde segundo (LÜDKE E ANDRÉ, 2014, p. 20) “o caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo”.

O instrumento para coleta de dados utilizada na pesquisa foi a entrevista semi-estruturada, onde foi elaborado um guia com perguntas semi-estruturadas para orientar a coleta dos dados. As entrevistas aconteceram logo após o visitante percorrer a exposição, com o acompanhamento e orientação dos mediadores.

Os sujeitos participantes da pesquisa são representados pelo público visitante da exposição “O Admirável Corpo Humano”, constituindo um grupo de 19 entrevistados, com idades variando entre 18 e 36 anos.

Desenvolvimento

Para coleta dos dados, foram feitas durante a entrevista três perguntas, cujo objetivo era identificar a percepção dos visitantes quanto o papel do mediador durante a mediação na exposição.

Ao serem questionados se a explicação do mediador na exposição foi clara, com linguagem adequada e de fácil compreensão, todos os dezenove entrevistados (100%) disseram que sim e relataram que:

Entrv. 13“Ele explicou de forma bem detalhada. Tudo que nós não entendêssemos, ele explicava com maior educação, com calma”.

Entrv. 03 – “Porque ela é uma pessoa assim que além de extrovertida, ela consegue explicar de maneira, igual a nós um público jovem, conseguiu entender. Ela fala em uma linguagem ao qual nos atrai em querer aprender”.

 

No questionamento seguinte foi perguntado que se não houvesse a presença do mediador e a explicação dele, eles teriam entendido as estruturas da mesma forma, os dezenove entrevistados (100%) disseram que não e alguns relataram que:

Entrv. 04 – “Porque por ter alguns órgãos ou partes que na teoria eu sei, mas na prática, na realidade eu não fazia a mínima ideia. Eu ficaria um pouco confuso”.

Entrv. 05–“Eu falo por mim que já tinha um pouco de conhecimento da anatomia, mas eu vendo ali ela apresentando, eu acho que eles [visitantes] não teriam um acesso ao conhecimento sozinhos”.

 

Ao serem questionados se eles acham importante a presença de mediadores em exposições, os dezenove entrevistados (100 %) disseram que sim, e alguns justificaram da seguinte forma:

Entrv. 01 – “Às vezes o que está escrito a gente não compreende, então uma pessoa que tem o conhecimento do que tá lá, é muito melhor. A explicação falada pra mim é bem melhor do que a escrita”.

Entrv. 13“Muitas vezes a gente pergunta o que que é isso?, mas não tá vendo os detalhes. Aí eles explicam certinho pra nós lá”.

Entrv. 20 – “Essencial! Afinal, a gente tá estudando né!”

 

Por ter um público visitante constituído em sua maioria por estudantes, logo pode ser estabelecida uma relação entre o espaço das exposições com um espaço educacional, contribuindo para que os mediadores tenham “[...] papel central, dado que são eles que concretizam a comunicação da instituição com o público e propiciam o diálogo com os visitantes acerca das questões presentes no museu, dando-lhes novos significados” (MARANDINO, 2008a, p. 28). Esse fato fica evidente quando analisamos os dados apresentados pelos entrevistados.

Observamos que o papel dos mediadores muitas vezes é comparado ao papel desempenhado pelos professores, sendo observado que “nos museus de ciência brasileiros, a mediação tem na figura do monitor uma aposta muito forte em termos de possibilitar aprendizagens mais efetivas” (MARANDINO, 2008b, p. 25).

Essa importância atribuída ao papel dos mediadores só vem reforçar a necessidade de um constante aperfeiçoamento a ser realizado através de capacitações periódicas, não com o objetivo que ele substitua o professor nesses espaços, mas que ele esteja preparado para atender um público muito variado de visitantes.

Entende-se que a mediação é uma atividade complexa, influenciada por múltiplos fatores e desempenhada muitas vezes por profissionais em formação. Por conseguinte, a capacitação de mediadores para o trabalho demanda tempo, investimento permanente e deve abarcar distintas estratégias metodológicas e áreas do conhecimento (GOMES; CAZELLI, 2016, p. 42).

Os mediadores precisam desenvolver diferentes estratégias ao receber diferentes públicos que perpassam por diferentes contextos, por isso a importância dos cursos de formação que promovam uma capacitação adequada aos objetivos a serem alcançados e a diversidade do público atendido nas exposições.

Conclusões

Concluímos ao analisar os dados coletados nas entrevistas, que o papel dos mediadores nos espaços de educação não formais como museus e exposições como “O Admirável Corpo Humano” torna-se de fundamental importância, contribuindo na compreensão e consequentemente no aprendizado relacionado a anatomia humana. Identificamos que o visitante estabelece uma relação de confiança entre ele e o mediador, sendo observado e considerado por ele, aspectos relacionados com a linguagem, personalidade, didática, dentre outras características, durante todo o processo de mediação. Essa relação muitas vezes é vista pelo visitante como hierárquica, onde o mediador detém o conhecimento que será passado para os leigos.

Os dados reforçam a importância da formação, capacitação e acompanhamento dos mediadores que irão atuar nas exposições e museus.

Referências

BIZERRA, Alessandra; MARANDINO, Martha. Formação de mediadores museais: contribuições da Teoria da Atividade. Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 1, p. 1-12. Campinas – SP. 2011.

GOMES, Isabel; CAZELLI, Sibele. Formação de mediadores em museus de ciência: saberes e práticas. Revista Ensaio, Belo Horizonte , 2016.

LÜDKE, Menga; ANDRE, Marli Elisa Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2ª edição. Rio de Janeiro: E.P.U., 2014.

MARANDINO, Martha (Org.). Educação em museus: a mediação em foco. Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação não Formal e Divulgação em Ciência - Geenf . FEUSP. São Paulo, SP, 2008a.

MARANDINO, Martha. Ação educativa, aprendizagem e mediação nas visitas aos museus de ciências. In: MASSARANI, L. (Ed.) Workshop sul americano e Escola de mediação em Museus e Centros de Ciências. Rio de Janeiro: Museu da Vida/ Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz, 2008b. p. 21-28.