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PRÁTICA PEDAGÓGICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Simone Ferreira Angelo, Lara Lavigne Amaral

Última alteração: 2017-03-17

Resumo


PRÁTICA PEDAGÓGICA EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Simone Ferreira Angelo

MEPES. Mestranda PPGEEDUC UFES.

Brasil. E-mail:sfangelo@bol.com.br

 

Lara Caroline Lavigne Amaaral

MEPES. Profª. Da Escola Família Agrícola de Belo Monte. Msc em Produção Animal –

Brasil. E-mail: laralavigne_zoo@hotmail.com

 

RESUMO

O artigo situa a prática pedagógica, denominada Atividade de Retorno, implementada no espaço-tempo da Escola Família Agrícola de Belo Monte em Mimoso do Sul. Neste artigo busca-se através da metodologia Estudo de Caso, apresentar esta prática pedagógica, que ocorre especificamente nas Escolas Famílias Agrícolas, para conhecimento de educadores e gestores; confirmá-la  como uma proposta educativa inovadora e transformadora em educação ambiental e percebê-la como integradora das relações escola -  família –comunidade consolidando práticas de cidadania.   O enfoque pedagógico da atividade desenvolvida é o cuidado com o meio-ambiente, neste caso com os recursos hídricos, a partir da adoção de práticas de proteção, conservação e preservação de nascentes. O que se constata ao longo das análises de resultados é que a atividade promove, de fato uma integração escola-família-comunidade, confirma-se enquanto proposta inovadora e transformadora em educação ambiental.

Palavras – chave: recursos hídricos; nascentes; atividade de retorno; educação ambiental.

 

I - INTRODUÇÃO

O trabalho apresentado refere-se ao Estudo de Caso de uma prática pedagógica desenvolvida pelas experiências da Escola Família Agrícola de Belo Monte em Mimoso do Sul. O objetivo da análise desta prática pedagógica é apresentar esta atividade para conhecimento da sociedade, em especial educadores e gestores, confirmar esta prática  como uma proposta educativa inovadora e transformadora em educação ambiental e percebê-la como integradora das relações escola -  família –comunidade consolidando práticas de cidadania.

A prática pedagógica em questão denomina-se Atividade de Retorno. Esta atividade,

[...] emerge a partir da realização do Plano de Estudo como resposta à realidade. São experiências, atividades concretas que serão realizadas na comunidade, meio sócio-profissional e/ou na família. (JESUS, 2011, p.87).

É uma prática específica das Escolas Famílias Agrícolas e que neste caso apresenta a O viés da Educação Ambiental. Nesta atividade o estudante aplica em sua comunidade e junto à família, de forma prática e teórica os conteúdos aprendidos/desenvolvidos na escola durante um semestre, a partir de um tema gerador que norteia estes conteúdos. O tema gerador desenvolvido na escola e escolhido para este artigo foi Recursos Hídricos, tema este desenvolvido com a turma do 3º ano do ensino médio integrado ao técnico em Agropecuária. Durante todo o 2º semestre os estudantes da referida série estudam conteúdos referentes ao tema gerador recursos hídricos. A abordagem ocorre em todas as disciplinas curriculares do núcleo comum (matemática, português, geografia, história, sociologia, filosofia, biologia, química e física) e da parte diversificada do currículo (são todas as disciplinas do curso técnico em agropecuária). São ministradas aulas, palestras com colaboradores externos à escola e parceiros da mesma, é realizada uma oficina construção de equipamento para isolar nascentes (conforme fotos 1 e2) , protegendo-a de impurezas e do pisoteio dos animais, o que poderia provocar a contaminação e até extinção da nascente por pisoteio.

Esta oficina é condição para que os estudantes aprendam a construir o equipamento de proteção e isolamento de nascentes e realizarem a atividade de retorno.  Após a oficina, assim como após as palestras, participação em eventos e aulas, os estudantes estão preparados para replicar a ideia em suas famílias e comunidades através da atividade denominada Atividade de Retorno. Nesta atividade cada estudante reúne  sua própria família e moradores de sua comunidade, e explicam os conceitos sobre preservação e conservação de nascentes e como fazer o isolamento da mesma. Aqueles que se interessam podem realizar o isolamento com auxílio do estudante. Esta atividade segue uma metodologia de preparação e acompanhamento do/a estudante pelos professores na escola.

Motivados pela temática, os estudantes e professores participaram de um Seminário das Águas em Cachoeiro de Itapemirim para terem um maior aporte teórico contextualizado.

Percebe-se que trabalhar a temática da água é importante visto que a “crise hídrica aparece como sendo um dos problemas oriundos da degradação do meio ambiente, além dos aspectos políticos, sociais e econômicos (JÚNIOR E FERREIRA, 2015). Além de,

“[...] estar em grande evidência na realidade de muitos brasileiros, e tratando-se de um assunto constantemente em pauta no cotidiano dos cidadãos, sendo abordado por diversas mídias, segmentos sociais e presente em documentos curriculares, legislações, em livros didáticos e objeto de propostas pedagógicas, essa temática deve ser introduzida nas práticas de educação ambiental no ambiente escolar, em todos os níveis e modalidades”. (FREITAS E MARIN, 2015).

 

A preservação e a proteção de nascentes é um dos temas mais relevantes da atualidade, especialmente face à crise hídrica enfrentada por muitos países e Estados, inclusive o Estado do Espírito Santo. Além disso, a maioria das famílias do campo usa água diretamente da fonte, utilizando nascentes da região como principal forma de captação de água, demonstrando a necessidade de conservação das mesmas.

Embora normalmente as nascentes apresentem as águas limpas, muitas impurezas podem poluir a água, dentre eles: urina, fezes, restos vegetais como folhas, galhos, frutos e troncos. Estes materiais em decomposição são elementos contaminantes de uma fonte d’água. A circulação de animais domésticos e silvestres na região da nascente também pode fazer a água ficar imprópria para o consumo humano.

Todos estes fatores justificam a necessidade de realização de projetos que incluam a temática hídrica nas escolas do campo, além da discussão e apropriação de técnicas de proteção e isolamento das nascentes por alunos e comunidades de origem.

Levando-se em conta que o consumo de água é algo inevitável, e que a água de boa qualidade é questão de capricho, cuidados e zelo (por parte da população e do Poder Público) tem-se tornado urgente a promoção de atividades para recuperar, conservar e preservar os recursos hídricos. Desta forma, a pergunta norteadora e problematizadora desta atividade pedagógica desenvolvida pela escola é: de que maneira podemos, enquanto escola, a partir dos estudantes, mobilizar as comunidades rurais a preservarem e  protegerem suas nascentes? De modo a garantir a oferta de água em qualidade e quantidade.

 

II – DESENVOLVIMENTO

O estudo de caso foi desenvolvido a partir da análise do Plano de formação da escola, o acervo documental, e registro fotográfico das atividades realizadas. Após leitura, foram realizadas conversas informais com estudantes, familiares e professores. Como esta atividade é replicada todos os anos na referida série, a outra etapa deste trabalho será a elaboração de questionário para realização de entrevistas com estudantes, professores e representantes das comunidades para elaboração de narrativas.

III – CONCLUSÕES

A Escola Família Agrícola de Belo Monte através da aplicação da atividade de retorno promoveu a formação de 13 jovens que através da replicação da prática de proteção das nascentes conseguiram abranger, de forma direta as seguintes comunidades: Santa Luzia, sede de Mimoso do Sul, Assentamento Che Guevara na comunidade Catuné, Palmeiras, Oriente, Sempre Viva, Conceição do Muqui, perfazendo o total de 150 moradores destas localidades.  A prática da oficina foi implementada na propriedade de um agricultor da comunidade da Água Limpa (conforme fotos 3 e 4). Com esta atividade os estudantes tiveram mais confiança para realizar a Atividade de Retorno em suas comunidades e famílias. Percebe-se a integração da escola-família – comunidade e ao se confirmar as atividades apresentadas pelos 13 estudantes em 7 comunidades.

Com estes resultados podemos constatar que a escola cumpre um papel de cidadania ao buscar inserir estes/as jovens na resolução dos problemas encontrados. E se concretiza em uma prática que vai de encontro aos requisitos de Daibém & Talamoni (2009) do que seja uma prática pedagógica em educação ambiental de, quando argumentam que:

“No entanto, é preciso considerar que se essas aulas de campo não forem contextualizadas; se não houver a devida problematização da questão que está sendo focada naquela atividade; se a aula de campo não for acompanhada de discussões que evidenciem os diferentes aspectos associados àquela questão em particular; se não houver a preocupação de instrumentalizar os sujeitos para compreensão em sua complexidade, com o objetivo de que esta nova e ampliada visão possa subsidiar, futuramente, um novo posicionamento do indivíduo diante da realidade que está posta e que, eventualmente, precisa e pode ser modificada, esta atividade  não poderá ser considerada como uma ação educativa ambiental.”

A atividade de retorno consolida-se, desta forma, como uma ação educativa ambiental, pois são contextualizadas, visto que partem dos contextos das famílias e comunidades destes/as estudantes; são problematizadas, visto partir de problemas vivenciados pelos/as mesmos/as; as discussões permeiam todas as etapas da atividade e; promove uma nova visão do estudante, pois este passa a ser um/a agente multiplicador/a  na sociedade, a começar por suas comunidades.

REFERÊNCIAS:

DAIBÉM, Ana Maria Lombardi & TALAMONI, Jandira Liria Biscalquini.  Educação Ambiental na Prática Educacional. In: MORAES, Mara Sueli S. & MARANHE, Elisandra A. (orgs.). Coleção UNESP-SECAD-UAB: Educação de Temas específicos. São Paulo: UNESP, Pró Reitoria de Extensão, Faculdade de Ciências, 2009. V. 4.p.14-40.

FREITAS, N. T. A. e MARIN, F. A. D. G. 2015. Educação Ambiental e água: concepções e práticas educativas em escolas municipais. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente Prudente-SP, v. 26, número especial1, p. 234-253.

JESUS, Janinha Gerke de. Formação de Professores na Pedagogia da Alternância. Vitória, ES: GM, 2011.

JÚNIOR, J.O.D, e FERREIRA, M.D. 2015. Consciência socioambiental: inserção da temática crise hídrica nas práticas de educação ambiental no contexto escolar, na modalidade de educação de jovens e adultos. I Simpósio Internacional de Águas, Solos e Geotecnologias.