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Processo de Avaliação pelos Pares
- As propostas são anonimizadas pelos organizadores e distribuídas para os membros do comitê de seleção, levando em conta quais membros podem ter conflito de interesse por pertencerem à mesma instituição de um dos autores. São indicados pareceristas que não tenham esse conflito e que sejam competentes no tema da submissão.
- Os critérios de seleção consideram os objetivos do Colóquio e a qualidade do conteúdo e da forma dos artigos. O comitê dá pareceres sobre as propostas e seleciona 20 delas.
- A comissão organizadora encaminha as decisões do comitê e os pareceres aos autores.
Comitê de seleção
Aucione Smarsaro - UFES
Bento Carlos Dias da Silva - UnESP
Elsa Tolone - Córdoba
Éric Guy Claude Laporte - UFES
Gabriel de Avila Othero - UFRGS
Giancarlo Guizzardi - UFES
Gládis Maria de Barcellos Almeida - UFSCar
Maria das Graças Volpe Nunes - USP
Oto Araújo Vale - UFSCar
Renata Vieira - PUCRS
Stella Esther Ortweiler Tagnin - USP
Vera Lúcia Strube de Lima - PUCRS
Política de Acesso às Edições Anteriores
As apresentações que compõem as conferências atual e anteriores neste site são de acesso livre e estão disponíveis para leitura gratuitamente, em benefício de autores e leitores interessados.
II Congresso Internacional Literatura e Revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS – DLL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS – MESTRADO E
II Congresso Internacional Literatura e Revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional.
( Homenagem aos 200 anos de nascimento de Karl Marx e aos 128 anos de nascimento de Oswald de Andrade) será realizado no dia 06 e 07 de
dezembro de 2018, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória.
APOIO CEBRAPAZ: CENTRO BRASILEIRO PELA PAZ
Organizadores:
- André Luis de Macedo Serrano (Ufes)
- Andressa Santos Takao (Ufes)
- Marcelo Burman(UFES)
- Rogério Olivier (Ufes)
- Tânia Silva (Ufes)
- Diana Souza Barbosa (UFES)
- Luis Eustáquio Soares (UFES
Comitê Científico:
- Marcelo Colussi (Guatemala)
- Luís Alberto Alves (UFRJ)
- Luís Eustáquio Soares (UFES)
- Luis Carlos Muñoz (Los Libertadores)
- Jörg Nowak ( University of Nottingham)
- Alda Correa ( Portugal)
Endereço eletrônico do Congresso: Universidade Federal do Espírito Santo, Auditório do ICII, do Centro de Ciências Humanas e Naturais.
INSCRIÇÕES:
- 3.1- DATA PARA INSCRIÇÕES DE COORDENADORES PARA OS SIMPÓSIOS:
- - Período para inscrições dos simpósios: de 30/10 até 15/11 – inscrições gratuitas para coordenar simpósios.
- - DATA PARA INSCRIÇÕES DE COMUNICAÇÕES em Simpósios: 16/11 até 02/12.
- - As inscrições para comunicações em Simpósios também serão gratuitas.
- f) INSCRIÇÕES PARA OUVINTE (Com direito à Certificado, sem cobrança de taxa)
- g) . Usar o e-mail a seguir para todas as inscrições, especificando se para Simpósio; para Comunicação (indicando o Simpósio de referência); se para Ouvinte. E-mail. coloquioliteraturaerevolucao@gmail.com
- h) Enviar os RESUMOS dos Simpósios e das Comunicações para o e-mail acima, procurando ser conciso e objetivo na redação.
- i) Os Simpósios com as respectivas comunicações ocorrerão à tarde, de 14 às 18.
Conferências:
06/12/18
Mesa de abertura (às 07h30min).
Luis Eustáquio Soares
Arlene Batista (Coordenadora do PPGL)
Primeira conferência- O realismo estético e a independência nacional (às 09h).
Mediador (a): Tânia da Silva (UFES)
Conferencistas:
Vera Aguiar Cotrim (USP)
Luis Alberto Alves (UFRJ)
Leonardo Mendes Neves Félix (UFES)
06/12/18
Segunda conferência- Antropofagia e Marxismo Oriental (às 18h30min).
Mediador (a): Rogério Rufino
Conferencistas:
André Serrano (UFES)
Julia Almeida (UFES)
Sérgio Fonseca Amaral (UFES)
07/12/18
Terceira conferência- Realismo literário na América Latina e a independência de “nuestra América” (às 09hs).
Mediador (a): Marcelo Burmann
Conferencistas:
Ana Aguiar Cotrim (UNB)
Luis Carlos Muñoz (Colombia)
Roberta Traspadini (UNILA)
Quarta conferência- Os espectros de Marx: realismo e imperialismo, hoje (às 18h30min).
Mediador (a): Andressa Takao
Conferencistas:
Jörg Nowak (University of Nottingham)
Luís Eustáquio Soares (UFES)
Livros/ lançamentos.
2.a- Lançamento do livro eletrônico do Colóquio passado: Literatura e
revolução: imperialismo, biopolítica e indústria cultural.
2.b- Lançamento do livro eletrônico: O Realismo como vanguarda” no próximo Colóquio.
JUSTIFICATIVA
INTRODUÇÃO
Buscando incrementar o debate acerca de temas que envolvem as suas três linhas de pesquisa (a saber: Poéticas da Antiguidade e da Pós-Modernidade, Literatura e Expressões da Alteridade, e Literatura e Outros Sistemas de Significação), do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFES, além de contemplar o NUDES, Núcleo de Pesquisa Diversidade e Descolonização –Observatório de Traduções Culturais, Educacionais e Epistemológicas, sem deixar de dialogar
com os Grupos de Pesquisa Literatura, Indústria Cultural e Letramento Crítico e Literatura,
Kynismo e Ideia de Comunismo, este Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, procurará mobilizar pesquisadores do Brasil e do mundo, com o objetivo de estabelecer uma linha histórica crítica que atualize e a interação dialógica entre literatura, revolução e biopolítica.
AXIOMAS DO RESLISMO ESTÉTICO E O ESTATUDO ANTICOLONIAL DA LITERATURA BRASILEIRA.
Exilados na França a partir de 1843, por editarem o jornal Gazeta Renana na Alemanha, Karl Marx e Arnold Ruge dirigiram os Anais Franco-alemães, a partir de Paris, com o objetivo de incentivar a troca de ideias entre intelectuais revolucionários daquele período histórico, sobretudo
tendo vista o desafio de aproximar a vanguarda socialista francesa aos filósofos - de inspiração hegeliana – alemães.
Em função de divergências ideológicas entre Marx e Ruge, além da censura propriamente dita, os Anais Franco-alemães foram publicados por meio de apenas um número, em edição dupla, em 1844, a partir das quais tornaram-se conhecidos dois ensaios de Marx, “Crítica da filosofia de direito de Hegel”, texto no qual o autor de O Capital (1867) analisou a relevância da sociedade civil para formação da estrutura do Estado; e “Sobre a questão judaica”, artigo no qual jovem Marx criticou a elite judaica em seu afã de reparo histórico de injustiças sofridas, sem considerar os outros segmentos oprimidos da sociedade e sem levar em conta que a verdadeira emancipação não é de base política, mas antes de tudo econômica; e comum.
Se os Anais Franco-Alemães, como sugere o título, teve como objetivo estimular a interação da filosofia alemã, sobretudo a hegeliana, como o socialismo francês, o efeito desse projeto, sob o ponto de vista da práxis, não poderia ter sido melhor, se se considera que um terceiro vetor foi incorporado à massa crítica da proposta, a saber: a crítica da crítica da economia política, desenvolvida por economistas ingleses como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, John Ramsay MacCulloch.
Essa última tarefa coube Friedrich Engels, que publicou o ensaio “Esboço para uma crítica da economia política”, texto que inaugurou o marxismo ao apresentar pela primeira vez o método da crítica da economia política, doravante subtítulo de obras referenciais do próprio Marx, como O capital: crítica da economia política (1967).
No citado artigo de Engels, a crítica da economia política, como questão de método, foi assim apresentada: economistas como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, MacCulloch, dentre outros, só poderiam realizar análise científica da economia burguesa até o limite apresentado pela própria estrutura do modo de produção capitalista, posto que, como liberais, não poderiam criticar a própria economia burguesa.
Como pensadores do liberalismo, assinalava o parceiro de Marx, no primeiro momento do mercantilismo e, ato contínuo, do capitalismo, os economistas ingleses do período histórico de Engels não poderiam descrever, por exemplo, uma categoria econômica como o valor, compreendida como tempo de trabalho dispendido para produzir mercadorias, riquezas; e não poderiam pois eram teóricos apologéticos do mais-valor, razão pela qual teorizavam com o objetivo consciente ou inconsciente de esconder que o mais-valor era na verdade o tempo do trabalho extorquido da classe operária. Nesse sentido, o mais-valor só poderia ser analisado, nesse contexto, de forma abstrata, metafísica, tendo em vista argumentos prestidigitadores, que ocultavam a realidade, ao esconder o tempo de trabalho sequestrado do operário.
Na base dessa racionalidade engelsiana, esboça-se o método marxista: só é possível produzir ciência, sem preconceito, assumindo o ponto de vista do valor do trabalho não pago ao trabalhador; o ponto de vista, portanto, do tempo de trabalho sequestrado da classe operária, seja no tocante ao mais-valor absoluto ( exploração direta do capital sobre e contra o trabalho); seja no que diz respeito ao mais-valor relativo, analisável como a instância concorrencial ‘revolucionária’ do capital, pois depende do desenvolvimento tecnocientífico para extorquir mais e mais, em escala planetária, o trabalho coletivo.
Além desse aspecto, Engels, no ensaio citado, argumentou que à medida que a civilização burguesa se constituía e se transformava, hegemonicamente, em uma nova ordem social estabelecida, os economistas liberais se tornavam mais cínicos e menos, assim, honestos. Nesse sentido, Adam Smith teria sido mais consequente que Thomas Malthus, que teria sido menos mistificador que David Ricardo; e assim por diante.
Tendo em vista essas questões, as seguintes perguntas constituem o horizonte de expectativa do Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, a saber: existirá a possibilidade de uma ‘crítica da economia política’ estética que identifique em certas tendências neoliberais contemporâneas um aprofundamento sem precedentes da mistificação científica, seja sob o ponto de vista da produção literária, seja no que se refere às teorias que circulam no mundo acadêmico na atualidade? Se a ideologia dominante, do contemporâneo, é o neoliberalismo, haverá um neoliberalismo estético e teórico? Como se manifesta e como produz efeitos de mistificação? Qual trabalho sequestrado fica ocultado por essas “tendências neoliberais decadentes” da produção literária e teórica atuais?
Se se considera sobretudo a primeira questão apresentada, relativa a uma crítica da economia política estética que se contraponha às mistificações da produção teórica e criativa contemporâneas, o argumento a ser apresentado no decorrer do este Primeiro Congresso
Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional tem, também, relação com as cartas que Karl Marx e Friedrich Engels trocaram com escritores dos seus respectivos períodos históricos e serão assim interpretadas:
1º Crítica – Engels critica, em carta datada de 26 de novembro 1885, o romance Os velhos e os novos (1984), de Minna Kautsky.
Engels, lendo o romance Os velhos e os novos de Minna Kautsky, cita Ésquilo e Aristófanes, com objetivo de problematizar o argumento corrente relativo à relação entre arte e política para argumentar que os dois dramaturgos gregos citados eram autores de “tendência”, assim como Dante, Cervantes e qualquer outro autor. Para o marxista inglês, a polêmica entre “arte de tendência” e arte autônoma seria falsa, porque autor algum tem como fugir de tendências ideológicas e históricas de sua época, resolvendo-as justamente quando consegue plasmá-las sem separar a dimensão política da forma artística.
Nesse contexto, Engels retira do termo “tendência” a sua conotação negativa, ao mesmo tempo em que salienta que, embora toda arte seja de “tendência”, esta não se confunde com a solução de antemão da intriga, em nome de uma Ideia, uma ideologia apriorística. O fundamental, assim, seria analisar a “tendência” social-ideológica que estaria na base de uma obra literária, sem desconsiderar o plasma singular que a define como obra de arte.
Haveria, subtende-se, assim, uma arte de tendência socialista ou revolucionária e uma arte de tendência decadente ou adaptada servilmente ao constituído. No primeiro caso, a literatura afirmaria a abertura do processo histórico em um duplo sentido: no da história enquanto tal e no da singularidade da obra em si, sendo que o desafio desta seria o de criar o plasma das tendências revolucionárias do processo histórico concreto, sem deixar de inscrevê-las em sua própria singularidade. No segundo caso, por sua vez, agora em diálogo com György Lukács de “Los escritores y los críticos (1939)”, a relação entre o velho e o novo se transforma no mais absoluto anti-historicismo, na arte que se limita ao constituído, quando aquilo que geralmente é chamado de novo se produz como [...] uma capitulação estética frente às correntes da moda do capitalismo decadente e – enquanto reverso inevitável -, subestima figuras eminentes , precisamente porque não se dá nelas este dualismo “interessante” e “vanguardista” do conteúdo político e da forma literária (LUKÁCS, 1939, 413).
Lukács, ecoando a citada carta de Engels a Minna Kautsky, salientou no trecho supra que conteúdo político e forma artística, como um plasma singular, dependem do talento autoral para afirmar a história, como processo revolucionário, na obra e que o “novo” enquanto tal perde essa perspectiva quando se atém, de forma abstrata e anti-histórica, às modas estéticas e teóricas das ideologias decadentes do capitalismo e do imperialismo. Para o crítico húngaro, a relação entre ovelho e o novo é fundamental para a produção literária, mas necessita de conteúdo histórico concreto, inclusive no que diz respeito às inovações científicas e seus impactos na produção literária.
Nesse sentido, se se considera o romance de tendência socialista fora de qualquer sectarismo ou figuração anti-histórica da relação entre o velho e o novo, a singularidade de sua plasmação política/ forma estética, retomando o diálogo com Engels, consegue, como efeito, destruir as ilusões convencionais sobre a natureza das relações sociais realmente existentes, abalando, assim, o otimismo do mundo burguês, assentado na decadência do sistema de aparência social; e decadente porque, só por existir, como segunda natureza, tende a camuflar o fato objetivo de que é resultado de um processo histórico e como tal não é nem natural e nem eterno.
Esse primeiro axioma sobre o realismo como espectros de Marx, assim, detém a seguinte configuração: sem uma percepção concreta da história como motor da luta de classe e portanto como processo aberto a teoria literária e a produção literária tenderão a ser capturadas pelos mais diversos tipos de ecletismos derivados das correntes em moda nas fases decadentes do capitalismo e do imperialismo.
2º CRÍTICA - ENGELS CRITICA O ROMANE DE MARGARET HARKNESS, City girl (1887), em carta datada de 1888.
Se no primeiro argumento crítico do realismo de Engels a Minna Kautsky o processo histórico real deve ser considerado para a produção de um realismo literário consequente, a carta dirigida à escritora inglesa, Margaret Harkness, a propósito de seu romance City girl (1887), apresenta o seguinte desafio: a plasmação entre política e forma literária deve figurar o devir histórico, tendo em vista a luta de classes sob o ponto de vista da classe operária.
Levando-se em conta que os operários se organizaram e enfrentaram a luta de classes como sujeitos históricos, por exemplo, na Comuna de Paris de 1771, na Revolução Francesa de 1789 e na Revolução Popular, na França, de 1848, na civilização burguesa do período do romance de Margaret Harknness não seria mais possível apresentar a classe operária como objeto de altruísmo burguês, como ocorreria, segundo Engels, no romance City girl.
O processo histórico concreto doravante apresentava o seguinte desafio para o realismo: narrar a alteração das antigas relações de produção por novas, protagonizadas pela luta de classes entre o capital e o trabalho. Nesse contexto, se o capital, no desafio de sua reprodução ampliada de si mesmo, está desafiado a ser revolucionário, superando seus próprios limites técnico-produtivos, à classe operária, por sua vez, não resta outra saída: necessita ser tão revolucionária quanto.
Ciente dessa questão, Engels critica o romance de Margaret Harkness pelo apoio que nele há ao Exército da Salvação, ao narrar a influência que essa associação religiosa exercia sobre as operárias menos conscientes, sem destacar, criticamente, o caráter filantrópico-burguês dessas políticas compensatórias que não resolvem efetivamente a situação de miséria dos trabalhadores. Para Engels, Honoré de Balzac (1799-1750), com seu monumental projeto de “Estudos de Costumes”, com suas oitenta e oito obras intituladas A comédia humana, era o escritor europeu do período que havia alcançado o “triunfo do realismo”, por ter conseguido produzir narrativas singulares nas quais as classes sociais, em luta, burgueses e operários, emergiam, destronando a aristocracia e o clero, ao mesmo tempo em que se definiam como o “motor da história” concreta.
O realismo, nesse contexto, como crítica da economia política estética, adquire a seguinte dimensão axiomática: está desafiado a narrar as classes emergentes de um determinado período histórico, ao mesmo tempo en que apresenta o fim de uma época.
3º CRÍTICA - CARTA DE KARL MARX A FERDINAND LASSALE, DATADA DE MARÇO DE 1959.
Em seis de março de 1959, Karl Marx, ao interpretar a tragédia Franz Von Sickingen (1858), de Ferdinand Lassale, destacou positivamente os seguintes aspectos: 1. Ser uma tragédia da história e da história como tragédia; 2. Que se propõe a ser protagonizada pela luta de classes.
No entanto, Marx criticou incisivamente o conflito de base da tragédia histórica de Lassale, a saber: entre cavaleiros e príncipes, tema que Lassale escolheu a partir da sublevação dos cavaleiros contra os príncipes, efetivamente ocorrida no outono de 1522. Para o autor de O Capital, esse não era o conflito que importava, à época, mas a guerra dos camponeses, levada a cabo dois anos depois (1524-1525) contra os príncipes.
Com a crítica de Marx à tragédia Franz Von Sickingen, de Lassale, visualiza-se o terceiro axioma sobre o realismo, como crítica da crítica da economia estética burguesa, que é: o realismo está desafiado a afirmar a história, como processo humano constituinte, apresentando as classes sociais emergentes, no campo da luta de classes, tendo em vista a plasmação singular do conflito que realmente importa numa época ou noutra.
Tendo em vista esses três axiomas sobre o realismo, como pensá-los na dinâmica da luta de classes contemporânea? Se na crítica da economia política proposta por Engels e tornada questão metodológica do marxismo, para fazer ciência, é preciso superar os preconceitos burgueses tendo em vista o ponto de vista do trabalho, sobretudo em sua potência ascendente, como seria possível realizar uma crítica da economia política estética da atualidade, tendo em vista a relação entre política e forma estética do trabalho subsumido, no atual presente histórico? Qual é o conflito de base subsumido pela expansão da civilização burguesa, em sua vertente europeia e estadunidense?
Sobretudo considerando essa última pergunta, o diálogo com o livro O Marxismo ocidental (2018), de Domenico Losurdo, parece indispensável, pela crítica da crítica nele realizada ao marxismo ocidental, historicamente cego àquilo que pode ser chamado de acumulação primitiva transversal da civilização burguesa, a saber: os saqueios coloniais.
Em O marxismo ocidental, Losurdo não perdoa praticamente ninguém. Trotsky, Della Volpe, Colletti, Althusser, Bloch, Horkheimer, Adorno, Sartre, Arendt, Levinas, até os contemporâneos como Foucault, Badiou, Agamben, Antonio Negri, Michael Hardt, Zizek, Harvey, dentre outros, têm a suas respetivas produções teóricas analisadas e criticadas pela indiferença em todos elas, em maior ou menor medida, à questão colonial.
O sectarismo do marxismo ocidental, ao priorizar a relação capital e trabalho, como se fosse a premissa absoluta da luta de classes mundial e ao defender posições que o materialismo histórico destituiu, como a de que o Estado seja necessariamente a instância do monopólio da violência burguesa, tende a desqualificar ou não dar a devida centralidade às revoluções anticolonialistas e anti-imperialistas do Oriente, acusadas no geral de terem produzido um socialismo estatal, autocrático, impuro porque investiram e investem energias na incorporação de tecnologias e no avanço técnico-produtivo supostamente essencialmente burgueses, sem contar que abandonam a pantomima revolucionária em nome da prosa cotidiana do trabalho de suas respectivas autonomias econômicas.
Na contramão do sectarismo do marxismo ocidental, uma simples descrição da história da civilização burguesa revela a centralidade do problema colonial na primeira modernidade, a europeia; e na segunda, a estadunidense: centenas de milhões de índios, pardos, negros, amarelos, brancos, mulheres, crianças, homens, velhos dizimados, em uma proporção gigantesca, inominável, de sofrimentos e consequências nefastas que a simples hipótese de insistir no drama das carnificinas da Primeira e Segunda Guerras mundiais, como epicentros da tragédia mundial, é simplesmente absurda, até porque essas duas Guerras o foram antes de tudo contra os países colonizados, porque foram guerras interimperialistas de disputa do planeta
Sem contar que a fase interimperialista do saqueio colonial do Ocidente, embora tenha produzido duas grandes guerra e extraordinário sofrimento nos povos colonizados, inclusive entre europeus, essa fase, é bom que se diga, não foi a única. Além dela, há: 2. a fase colonial propriamente dita, de acumulação primitiva formada pelos destroços do mundo medieval e pelo saqueio das colônias, a partir do trabalho escravo, sobretudo negro, e da eliminação genocida dos autóctones, como os índios latino-americanos e os peles vermelhas estadunidenses; 3. a fase revolucionária em que as burguesias, enriquecidas com a acumulação realizada na primeira fase, resolveram eliminar a ordem política aristocrática-colonial com o propósito de moldarem por elas mesmas os arranjos institucionais e legais da civilização burguesa; 4. a fase da decadência burguesa,
em que esta deixa de ser politicamente revolucionária; 5. a fase do ultraimperialismo americano, a atual.
Se se consideram essas cinco fases, fica patente que a transversalidade do saqueio colonial é parte estrutural da civilização burguesa. A esse respeito, Rosa Luxemburgo de A acumulação do capital (1913), em interação crítica com o volume II e III de O capital, de Karl Marx, foi precisa ao salientar que capitalismo não funciona apenas por meio de suas categorias imanentes. Se a estrutura da civilização burguesa pressupõe o Departamento I, que são os meios de produção; e o Departamento II, que são os meios de circulação e consumo, o terceiro Departamento, não previsto por Marx, seria: o imperialismo.
Nesse contexto, o imperialismo pode ser definido como um metacapitalismo que surge precisamente no período de decadência da civilização burguesa, a fase 4, que durou, tendo como referência a França, do início da Restauração, 1814, até 1860, data a partir da qual se dá o início da fase interimperialista, responsável pela Primeira Guerra Mundial, indo até o final da Segunda Guerra Mundial, quando emerge o ultraimperialismo americano.
O imperialismo, nesse contexto, é a consciência burocrática de que o capitalismo não funciona por conta própria, pois necessita da transversalidade do saqueio colonial. Sua função é controlar regiamente a divisão de trabalho implicada com o Departamento I ( apenas o centro do sistema pode desenvolvê-lo, liderando o avanço técnico-científico) e o Departamento II ( que pode estar presente, não sem hierarquias e tutelas, na periferia do sistema-mundo). Como Departamento III, o imperialismo assume a tarefa de administrar o capitalismo, atualizando permanentemente a primeira fase da civilização burguesa, a da formação primitiva do capital, tendo em vista o estatuto colonial-escravista.
Uma instigante teórica sobre o imperialismo, ao menos em sua produção intelectual que vai de 1941 a 1946, Hannah Arendt, salientava, em 1946, que o imperialismo era ao mesmo tempo o poder pelo poder, a expansão pela expansão e o racismo pelo racismo, identificando sem meias palavras o antissemitismo ao terceiro Reich e à expansão colonial imperialista, perspectiva que ela abandou totalmente após ter adquirido a nacionalidade americana, em 1951, não sendo mera coincidência que a sua data de batismo para ultraimperialismo americano seja também a data de publicação de Origens do totalitarismo (1951), livro no qual, como traição a tudo que escrevera antes, o totalitarismo, ao invés de ser o nome comum da expansão colonialista ocidental-americana, passa a dizer respeito a uma suposta semelhança do mal absoluto, como natureza de certos humanos, entre Hitler e Stalin.
É nesse sentido que o I Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, assume a tarefa de convidar a comunidade acadêmica nacional e internacional para discutir as seguintes questões: 1. Se o conflito fundamental da civilização burguesa se dá entre a Metrópole e o terceiro mundismo ou entre o imperialismo e a independência econômica e politica das colônias, quais críticas poderiam ser feitas às teorias acadêmicas em voga como os Estudos Culturais, o multiculturalismo, o pós-colonialismo, o decolonialismo, sem deixar de considerar vertentes críticas como as do liberalismo de gênero, étnico, dentre outras? Essas teorias são realmente as que vocalizam a centralidade do saqueio colonial? É possível justiça econômica, étnica e de gênero estando sob o domínio colonial do imperialismo de plantão? Quais as diferenças existentes entre a fase interimperialista da civilização burguesa relativamente à atual, a do ultraimperialismo americano? Que relação tem a Guerra Fria com os estereótipos dominantes em todas as áreas de conhecimento? Como a Guerra Fria, a única guerra realmente vencida por Estados Unidos, moldou o pensamento, a cultura e a práxis contemporânea? Como a Guerra Fria está presente nos atuais modos de ser do marxismo oriental?
Tendo em vista a comemoração dos 200 anos de nascimento de Karl Marx, que nasceu em 5 de maio de 1818 e os 128 anos de nascimento de Oswald de Andrade, este Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, além de ser uma homenagem ao pensador alemão, propõe-se a ser também uma reflexão sobre os efeitos positivos e muitas vezes imprevistos de sua teoria. Um dos efeitos ou espectros de Marx ocorreu precisamente com a proposta antropofágica de Oswald de Andrade, formulada pela primeira vez em 1928, com o “Manifesto antropófago”, ensaio no qual o conflito entre imperialismo e independência nacional começa a se esboçar de forma extraordinária, até encontrar uma formulação mais madura nos romances Marco zero i, A revolução melancólica (1943) e Marco zero II, Chão(1945), sem contar os ensaios “A Arcádia e a inconfidência” (1945) e “Crise da filosofia Messiânica (1950)”.
Os dois romances da década de 40, de Oswald de Andrade tem como plasmação política/formal o problema da independência do Brasil, na contramão do saqueio colonial e dos imperialismos inglês, japonês, italiano, estadunidense. Por sua vez, os dois ensaios referidos, “A Arcádia e a Inconfidência” e “Crise da filosofia messiânica”, de forma extraordinária realizam a crítica da crítica da economia política estética brasileira tendo em vista a centralidade da independência nacional ( residindo aí o elogio à Inconfidência Mineira e a negação dos árcades) em face do colonialismo/imperialismo e, também, se se considera o segundo ensaio, a crítica da crítica da economia política do próprio marxismo ocidental, cujo messianismo, em crise ( ainda hoje, sempre) tende a ignorar precisamente o que importa: o saqueio colonial
A expressão “espectros de Marx”, sob esse ponto de vista, presente no título deste Congresso, tem relação com esses imprevistos da teoria marxista, que ocorreram de forma criativa, altiva e imprevista na vitória revolução Russa, de 1917, absolutamente imprevisível, para o marxismo ocidental, no seu impacto no processo de descolonização nacional africana e asiática e também, dentre outros exemplos, na proposta antropofágica, no campo da cultura brasileira, formulada por Oswald de Andrade, por meio da seguinte síntese: “Só a antropofagia nos une...”.
Especificamente, no entanto, o motivo do uso da expressão “os espectros de Marx’ tem a ver com o livro Os espectros de Marx (1994), de Jacques Derrida, considerando, por exemplo, a seguinte passagem: “[...] este algum outro espectral nos olha; sentimo-nos olhados por ele, fora de toda sincronia, antes mesmo e para além de nossa parte, segunda uma anterioridade ( que pode ser da geração, de mais de uma geração) e uma dissemetria absolutas, segundo uma desproporção absolutamente incontroláveis. A anacronia faz a lei aqui (DERRIDA, 1994, p. 22)”.
Ora, “a anacronia que faz a lei aqui”, resistindo à subsunção geral do processo do trabalho humano, não será precisamente, na atualidade, a paridade de armas alcançada por Rússia e China, relativamente à OTAN e aos Estados Unidos? Como pensar essa paridade de armas no contexto de uma crítica da economia política estética do realismo literário possível, no contemporâneo, quando prioriza a plasmação literária tendo em vista o seguinte conflito de base na atualidade: ultraimperialismo americano e independência político-econômica das colônias de todo o planeta?
Pergunta que marca o desafio do novo realismo brasileiro, mundial, e que tem como referência o seguinte desafio: “Colonizados do mundo, uni-vos!”
OBJETIVOS
1. GERAIS E ESPECÍFICOS
Se uma literatura revolucionária pode ser definida como o suporte textual de um processo que, em perspectiva, problematiza e destitui o aparelho de Estado, tendo em vista a compreensão crítica de que este, no âmbito da civilização burguesa, limita, domestica e inviabiliza a potência laica da e na criação, quando instigada pelo protagonismo dos povos, este Primeiro Congresso InternacionalLiteratura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional procura problematizar essa perspectiva ocidental para reafirmar outra, a independência nacional ( logo um Estado forte, dos trabalhadores) em face do sistema colonial europeu e estadunidense, sem deixar de considerar a fase interimperialista e ultraimperialista da dominação ocidental e seus saqueios permanentes dos Estados Nacionais colonizados. Nesse contexto, se os três axiomas do realismo, aqui propostos, estão implicados com afirmação do devir histórico, com a emergência da luta de classes e com a escolha acertada do conflito que realmente importa, é objetivo deste Congresso pensar o realismo tendo em vista a relação entre colonialismo/imperialismo/ultraimperialismo versos independência nacional.
SIMPÓSIOS E COMUNICAÇÕES À TARDE.
RESUMOS
Jörg Nowak ( University of Nottingham)
The ultimate political consequence of the great financial crisis is the retreat into and renewal of the national imperialist state, centred around an authoritarian-nationalist project. Nevertheless, this ‘return of the state’ that was never absent is deeply embedded into the neoliberal form of today´s global capitalism. It pretends to cater to working class interests of its citizens to some bigger extent; but this remains largely a symbolic gesture. This fake interpellation of the national proletariat – not much unlike classical fascism – is accompanied by a profound political weakness and instability of these regimes. While this tendency itself seems to be a global phenomenon, it is at the same time fraught with the challenge to establish an economic nationalism in the framework of a globally interconnected capitalism, thus placing an enormous contradiction in the heart of this very tendency.Not only are they haunted by their promises of welfare and employment, they also are confronted with deeply divided and fragmented state apparatuses in which different state agencies pursue radically different strategies. The splits within state elites and state apparatuses are profound and radical.
Thus, the national imperialist projects are fraught with the paradox that renationalization is no viable option on the economic plane, but part of the elites feel they need national rhetoric in order to tie the middle classes to the existing economic order. The move to engage in large infrastructure projects seems to represent a rather desperate attempt to relieve some of the political and economic deadlocks than a viable long-term project of accumulation and political rule. It remains to be seen if socialdemocratic or more radical left movements are able to offer another way out of those impasses. But it is obvious that political tensions and economic bottlenecks are rather increasing.
REFERÊNCIAS :
REFERÊNCIA
- ADORNO, Theodor; HORKHEIMER, Marx. Dialética do esclarecimento. Trad. Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LETRAS – DLL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS – MESTRADO E
II Congresso Internacional Literatura e Revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional.
( Homenagem aos 200 anos de nascimento de Karl Marx e aos 128 anos de nascimento de Oswald de Andrade) será realizado no dia 06 e 07 de
dezembro de 2018, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), em Vitória.
APOIO CEBRAPAZ: CENTRO BRASILEIRO PELA PAZ
Organizadores:
André Luis de Macedo Serrano (Ufes)
Andressa Santos Takao (Ufes)
Marcelo Burman(UFES)
Rogério Olivier (Ufes)
Tânia Silva (Ufes)
Diana Souza Barbosa (UFES)
Luis Eustáquio Soares (UFES)
Comitê Científico:
Marcelo Colussi (Guatemala)
Luís Alberto Alves (UFRJ)
Luís Eustáquio Soares (UFES)
Luis Carlos Muñoz (Los Libertadores)
Jörg Nowak ( University of Nottingham)
Alda Correa ( Portugal)
Endereço eletrônico do Congresso: Universidade Federal do Espírito Santo, Auditório do ICII, do Centro de Ciências Humanas e Naturais.
INSCRIÇÕES:
3.1- DATA PARA INSCRIÇÕES DE COORDENADORES PARA OS SIMPÓSIOS:
- Período para inscrições dos simpósios: de 30/10 até 15/11 – inscrições gratuitas para coordenar simpósios.
- DATA PARA INSCRIÇÕES DE COMUNICAÇÕES em Simpósios: 16/11 até 02/12.
- As inscrições para comunicações em Simpósios também serão gratuitas.
f) INSCRIÇÕES PARA OUVINTE (Com direito à Certificado, sem cobrança de taxa)
g) . Usar o e-mail a seguir para todas as inscrições, especificando se para Simpósio; para Comunicação (indicando o Simpósio de referência); se para Ouvinte. E-mail. coloquioliteraturaerevolucao@gmail.com
h) Enviar os RESUMOS dos Simpósios e das Comunicações para o e-mail acima, procurando ser conciso e objetivo na redação.
i) Os Simpósios com as respectivas comunicações ocorrerão à tarde, de 14 às 18.
Conferências:
06/12/18
Mesa de abertura (às 07h30min).
Luis Eustáquio Soares
Arlene Batista (Coordenadora do PPGL)
Primeira conferência- O realismo estético e a independência nacional (às 09h).
Mediador (a): Tânia da Silva (UFES)
Conferencistas:
Vera Aguiar Cotrim (USP)
Luis Alberto Alves (UFRJ)
Leonardo Mendes Neves Félix (UFES)
06/12/18
Segunda conferência- Antropofagia e Marxismo Oriental (às 18h30min).
Mediador (a): Rogério Rufino
Conferencistas:
André Serrano (UFES)
Julia Almeida (UFES)
Sérgio Fonseca Amaral (UFES)
07/12/18
Terceira conferência- Realismo literário na América Latina e a independência de “nuestra América” (às 09hs).
Mediador (a): Marcelo Burmann
Conferencistas:
Ana Aguiar Cotrim (UNB)
Luis Carlos Muñoz (Colombia)
Roberta Traspadini (UNILA)
Quarta conferência- Os espectros de Marx: realismo e imperialismo, hoje (às 18h30min).
Mediador (a): Andressa Takao
Conferencistas:
Jörg Nowak (University of Nottingham)
Luís Eustáquio Soares (UFES)
Livros/ lançamentos.
2.a- Lançamento do livro eletrônico do Colóquio passado: Literatura e
revolução: imperialismo, biopolítica e indústria cultural.
2.b- Lançamento do livro eletrônico: O Realismo como vanguarda” no próximo Colóquio.
JUSTIFICATIVA
INTRODUÇÃO
Buscando incrementar o debate acerca de temas que envolvem as suas três linhas de pesquisa (a saber: Poéticas da Antiguidade e da Pós-Modernidade, Literatura e Expressões da Alteridade, e Literatura e Outros Sistemas de Significação), do Programa de Pós-Graduação em Letras da UFES, além de contemplar o NUDES, Núcleo de Pesquisa Diversidade e Descolonização –Observatório de Traduções Culturais, Educacionais e Epistemológicas, sem deixar de dialogar
com os Grupos de Pesquisa Literatura, Indústria Cultural e Letramento Crítico e Literatura,
Kynismo e Ideia de Comunismo, este Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução:
os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, procurará mobilizar pesquisadores do Brasil e do mundo, com o objetivo de estabelecer uma linha histórica crítica que atualize e a interação dialógica entre literatura, revolução e biopolítica.
AXIOMAS DO RESLISMO ESTÉTICO E O ESTATUDO ANTICOLONIAL DA LITERATURA BRASILEIRA.
Exilados na França a partir de 1843, por editarem o jornal Gazeta Renana na Alemanha, Karl Marx e Arnold Ruge dirigiram os Anais Franco-alemães, a partir de Paris, com o objetivo de incentivar a troca de ideias entre intelectuais revolucionários daquele período histórico, sobretudo
tendo vista o desafio de aproximar a vanguarda socialista francesa aos filósofos - de inspiração hegeliana – alemães.
Em função de divergências ideológicas entre Marx e Ruge, além da censura propriamente dita, os Anais Franco-alemães foram publicados por meio de apenas um número, em edição dupla, em 1844, a partir das quais tornaram-se conhecidos dois ensaios de Marx, “Crítica da filosofia de direito de Hegel”, texto no qual o autor de O Capital (1867) analisou a relevância da sociedade civil para formação da estrutura do Estado; e “Sobre a questão judaica”, artigo no qual jovem Marx criticou a elite judaica em seu afã de reparo histórico de injustiças sofridas, sem considerar os outros segmentos oprimidos da sociedade e sem levar em conta que a verdadeira emancipação não é de base política, mas antes de tudo econômica; e comum.
Se os Anais Franco-Alemães, como sugere o título, teve como objetivo estimular a interação da filosofia alemã, sobretudo a hegeliana, como o socialismo francês, o efeito desse projeto, sob o ponto de vista da práxis, não poderia ter sido melhor, se se considera que um terceiro vetor foi incorporado à massa crítica da proposta, a saber: a crítica da crítica da economia política, desenvolvida por economistas ingleses como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, John Ramsay MacCulloch.
Essa última tarefa coube Friedrich Engels, que publicou o ensaio “Esboço para uma crítica da economia política”, texto que inaugurou o marxismo ao apresentar pela primeira vez o método da crítica da economia política, doravante subtítulo de obras referenciais do próprio Marx, como O capital: crítica da economia política (1967).
No citado artigo de Engels, a crítica da economia política, como questão de método, foi assim apresentada: economistas como Adam Smith, Thomas Malthus, David Ricardo, MacCulloch, dentre outros, só poderiam realizar análise científica da economia burguesa até o limite apresentado pela própria estrutura do modo de produção capitalista, posto que, como liberais, não poderiam criticar a própria economia burguesa.
Como pensadores do liberalismo, assinalava o parceiro de Marx, no primeiro momento do mercantilismo e, ato contínuo, do capitalismo, os economistas ingleses do período histórico de Engels não poderiam descrever, por exemplo, uma categoria econômica como o valor, compreendida como tempo de trabalho dispendido para produzir mercadorias, riquezas; e não poderiam pois eram teóricos apologéticos do mais-valor, razão pela qual teorizavam com o objetivo consciente ou inconsciente de esconder que o mais-valor era na verdade o tempo do trabalho extorquido da classe operária. Nesse sentido, o mais-valor só poderia ser analisado, nesse contexto, de forma abstrata, metafísica, tendo em vista argumentos prestidigitadores, que ocultavam a realidade, ao esconder o tempo de trabalho sequestrado do operário.
Na base dessa racionalidade engelsiana, esboça-se o método marxista: só é possível produzir ciência, sem preconceito, assumindo o ponto de vista do valor do trabalho não pago ao trabalhador; o ponto de vista, portanto, do tempo de trabalho sequestrado da classe operária, seja no tocante ao mais-valor absoluto ( exploração direta do capital sobre e contra o trabalho); seja no que diz respeito ao mais-valor relativo, analisável como a instância concorrencial ‘revolucionária’ do capital, pois depende do desenvolvimento tecnocientífico para extorquir mais e mais, em escala planetária, o trabalho coletivo.
Além desse aspecto, Engels, no ensaio citado, argumentou que à medida que a civilização burguesa se constituía e se transformava, hegemonicamente, em uma nova ordem social estabelecida, os economistas liberais se tornavam mais cínicos e menos, assim, honestos. Nesse sentido, Adam Smith teria sido mais consequente que Thomas Malthus, que teria sido menos mistificador que David Ricardo; e assim por diante.
Tendo em vista essas questões, as seguintes perguntas constituem o horizonte de expectativa do Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, a saber: existirá a possibilidade de uma ‘crítica da economia política’ estética que identifique em certas tendências neoliberais contemporâneas um aprofundamento sem precedentes da mistificação científica, seja sob o ponto de vista da produção literária, seja no que se refere às teorias que circulam no mundo acadêmico na atualidade? Se a ideologia dominante, do contemporâneo, é o neoliberalismo, haverá um neoliberalismo estético e teórico? Como se manifesta e como produz efeitos de mistificação? Qual trabalho sequestrado fica ocultado por essas “tendências neoliberais decadentes” da produção literária e teórica atuais?
Se se considera sobretudo a primeira questão apresentada, relativa a uma crítica da economia política estética que se contraponha às mistificações da produção teórica e criativa contemporâneas, o argumento a ser apresentado no decorrer do este Primeiro Congresso
Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional tem, também, relação com as cartas que Karl Marx e Friedrich Engels trocaram com escritores dos seus respectivos períodos históricos e serão assim interpretadas:
1º Crítica – Engels critica, em carta datada de 26 de novembro 1885, o romance Os velhos e os novos (1984), de Minna Kautsky.
Engels, lendo o romance Os velhos e os novos de Minna Kautsky, cita Ésquilo e Aristófanes, com objetivo de problematizar o argumento corrente relativo à relação entre arte e política para argumentar que os dois dramaturgos gregos citados eram autores de “tendência”, assim como Dante, Cervantes e qualquer outro autor. Para o marxista inglês, a polêmica entre “arte de tendência” e arte autônoma seria falsa, porque autor algum tem como fugir de tendências ideológicas e históricas de sua época, resolvendo-as justamente quando consegue plasmá-las sem separar a dimensão política da forma artística.
Nesse contexto, Engels retira do termo “tendência” a sua conotação negativa, ao mesmo tempo em que salienta que, embora toda arte seja de “tendência”, esta não se confunde com a solução de antemão da intriga, em nome de uma Ideia, uma ideologia apriorística. O fundamental, assim, seria analisar a “tendência” social-ideológica que estaria na base de uma obra literária, sem desconsiderar o plasma singular que a define como obra de arte.
Haveria, subtende-se, assim, uma arte de tendência socialista ou revolucionária e uma arte de tendência decadente ou adaptada servilmente ao constituído. No primeiro caso, a literatura afirmaria a abertura do processo histórico em um duplo sentido: no da história enquanto tal e no da singularidade da obra em si, sendo que o desafio desta seria o de criar o plasma das tendências revolucionárias do processo histórico concreto, sem deixar de inscrevê-las em sua própria singularidade. No segundo caso, por sua vez, agora em diálogo com György Lukács de “Los escritores y los críticos (1939)”, a relação entre o velho e o novo se transforma no mais absoluto anti-historicismo, na arte que se limita ao constituído, quando aquilo que geralmente é chamado de novo se produz como [...] uma capitulação estética frente às correntes da moda do capitalismo decadente e – enquanto reverso inevitável -, subestima figuras eminentes , precisamente porque não se dá nelas este dualismo “interessante” e “vanguardista” do conteúdo político e da forma literária (LUKÁCS, 1939, 413).
Lukács, ecoando a citada carta de Engels a Minna Kautsky, salientou no trecho supra que conteúdo político e forma artística, como um plasma singular, dependem do talento autoral para afirmar a história, como processo revolucionário, na obra e que o “novo” enquanto tal perde essa perspectiva quando se atém, de forma abstrata e anti-histórica, às modas estéticas e teóricas das ideologias decadentes do capitalismo e do imperialismo. Para o crítico húngaro, a relação entre o
velho e o novo é fundamental para a produção literária, mas necessita de conteúdo histórico concreto, inclusive no que diz respeito às inovações científicas e seus impactos na produção literária.
Nesse sentido, se se considera o romance de tendência socialista fora de qualquer sectarismo ou figuração anti-histórica da relação entre o velho e o novo, a singularidade de sua plasmação política/ forma estética, retomando o diálogo com Engels, consegue, como efeito, destruir as ilusões convencionais sobre a natureza das relações sociais realmente existentes, abalando, assim, o otimismo do mundo burguês, assentado na decadência do sistema de aparência social; e decadente porque, só por existir, como segunda natureza, tende a camuflar o fato objetivo de que é resultado de um processo histórico e como tal não é nem natural e nem eterno.
Esse primeiro axioma sobre o realismo como espectros de Marx, assim, detém a seguinte configuração: sem uma percepção concreta da história como motor da luta de classe e portanto como processo aberto a teoria literária e a produção literária tenderão a ser capturadas pelos mais diversos tipos de ecletismos derivados das correntes em moda nas fases decadentes do capitalismo e do imperialismo.
2º CRÍTICA - ENGELS CRITICA O ROMANE DE MARGARET HARKNESS, City girl (1887), em carta datada de 1888.
Se no primeiro argumento crítico do realismo de Engels a Minna Kautsky o processo histórico real deve ser considerado para a produção de um realismo literário consequente, a carta dirigida à escritora inglesa, Margaret Harkness, a propósito de seu romance City girl (1887), apresenta o seguinte desafio: a plasmação entre política e forma literária deve figurar o devir histórico, tendo em vista a luta de classes sob o ponto de vista da classe operária.
Levando-se em conta que os operários se organizaram e enfrentaram a luta de classes como sujeitos históricos, por exemplo, na Comuna de Paris de 1771, na Revolução Francesa de 1789 e na Revolução Popular, na França, de 1848, na civilização burguesa do período do romance de Margaret Harknness não seria mais possível apresentar a classe operária como objeto de altruísmo burguês, como ocorreria, segundo Engels, no romance City girl.
O processo histórico concreto doravante apresentava o seguinte desafio para o realismo: narrar a alteração das antigas relações de produção por novas, protagonizadas pela luta de classes entre o capital e o trabalho. Nesse contexto, se o capital, no desafio de sua reprodução ampliada de si mesmo, está desafiado a ser revolucionário, superando seus próprios limites técnico-produtivos, à classe operária, por sua vez, não resta outra saída: necessita ser tão revolucionária quanto.
Ciente dessa questão, Engels critica o romance de Margaret Harkness pelo apoio que nele há ao Exército da Salvação, ao narrar a influência que essa associação religiosa exercia sobre as
operárias menos conscientes, sem destacar, criticamente, o caráter filantrópico-burguês dessas políticas compensatórias que não resolvem efetivamente a situação de miséria dos trabalhadores. Para Engels, Honoré de Balzac (1799-1750), com seu monumental projeto de “Estudos de Costumes”, com suas oitenta e oito obras intituladas A comédia humana, era o escritor europeu do período que havia alcançado o “triunfo do realismo”, por ter conseguido produzir narrativas singulares nas quais as classes sociais, em luta, burgueses e operários, emergiam, destronando a aristocracia e o clero, ao mesmo tempo em que se definiam como o “motor da história” concreta.
O realismo, nesse contexto, como crítica da economia política estética, adquire a seguinte dimensão axiomática: está desafiado a narrar as classes emergentes de um determinado período histórico, ao mesmo tempo en que apresenta o fim de uma época.
3º CRÍTICA - CARTA DE KARL MARX A FERDINAND LASSALE, DATADA DE MARÇO DE 1959.
Em seis de março de 1959, Karl Marx, ao interpretar a tragédia Franz Von Sickingen (1858), de Ferdinand Lassale, destacou positivamente os seguintes aspectos: 1. Ser uma tragédia da história e da história como tragédia; 2. Que se propõe a ser protagonizada pela luta de classes.
No entanto, Marx criticou incisivamente o conflito de base da tragédia histórica de Lassale, a saber: entre cavaleiros e príncipes, tema que Lassale escolheu a partir da sublevação dos cavaleiros contra os príncipes, efetivamente ocorrida no outono de 1522. Para o autor de O Capital, esse não era o conflito que importava, à época, mas a guerra dos camponeses, levada a cabo dois anos depois (1524-1525) contra os príncipes.
Com a crítica de Marx à tragédia Franz Von Sickingen, de Lassale, visualiza-se o terceiro axioma sobre o realismo, como crítica da crítica da economia estética burguesa, que é: o realismo está desafiado a afirmar a história, como processo humano constituinte, apresentando as classes sociais emergentes, no campo da luta de classes, tendo em vista a plasmação singular do conflito que realmente importa numa época ou noutra.
Tendo em vista esses três axiomas sobre o realismo, como pensá-los na dinâmica da luta de classes contemporânea? Se na crítica da economia política proposta por Engels e tornada questão metodológica do marxismo, para fazer ciência, é preciso superar os preconceitos burgueses tendo em vista o ponto de vista do trabalho, sobretudo em sua potência ascendente, como seria possível realizar uma crítica da economia política estética da atualidade, tendo em vista a relação entre política e forma estética do trabalho subsumido, no atual presente histórico? Qual é o conflito de base subsumido pela expansão da civilização burguesa, em sua vertente europeia e estadunidense?
Sobretudo considerando essa última pergunta, o diálogo com o livro O Marxismo ocidental (2018), de Domenico Losurdo, parece indispensável, pela crítica da crítica nele realizada ao
marxismo ocidental, historicamente cego àquilo que pode ser chamado de acumulação primitiva transversal da civilização burguesa, a saber: os saqueios coloniais.
Em O marxismo ocidental, Losurdo não perdoa praticamente ninguém. Trotsky, Della Volpe, Colletti, Althusser, Bloch, Horkheimer, Adorno, Sartre, Arendt, Levinas, até os contemporâneos como Foucault, Badiou, Agamben, Antonio Negri, Michael Hardt, Zizek, Harvey, dentre outros, têm a suas respetivas produções teóricas analisadas e criticadas pela indiferença em todos elas, em maior ou menor medida, à questão colonial.
O sectarismo do marxismo ocidental, ao priorizar a relação capital e trabalho, como se fosse a premissa absoluta da luta de classes mundial e ao defender posições que o materialismo histórico destituiu, como a de que o Estado seja necessariamente a instância do monopólio da violência burguesa, tende a desqualificar ou não dar a devida centralidade às revoluções anticolonialistas e anti-imperialistas do Oriente, acusadas no geral de terem produzido um socialismo estatal, autocrático, impuro porque investiram e investem energias na incorporação de tecnologias e no avanço técnico-produtivo supostamente essencialmente burgueses, sem contar que abandonam a pantomima revolucionária em nome da prosa cotidiana do trabalho de suas respectivas autonomias econômicas.
Na contramão do sectarismo do marxismo ocidental, uma simples descrição da história da civilização burguesa revela a centralidade do problema colonial na primeira modernidade, a europeia; e na segunda, a estadunidense: centenas de milhões de índios, pardos, negros, amarelos, brancos, mulheres, crianças, homens, velhos dizimados, em uma proporção gigantesca, inominável, de sofrimentos e consequências nefastas que a simples hipótese de insistir no drama das carnificinas da Primeira e Segunda Guerras mundiais, como epicentros da tragédia mundial, é simplesmente absurda, até porque essas duas Guerras o foram antes de tudo contra os países colonizados, porque foram guerras interimperialistas de disputa do planeta
Sem contar que a fase interimperialista do saqueio colonial do Ocidente, embora tenha produzido duas grandes guerra e extraordinário sofrimento nos povos colonizados, inclusive entre europeus, essa fase, é bom que se diga, não foi a única. Além dela, há: 2. a fase colonial propriamente dita, de acumulação primitiva formada pelos destroços do mundo medieval e pelo saqueio das colônias, a partir do trabalho escravo, sobretudo negro, e da eliminação genocida dos autóctones, como os índios latino-americanos e os peles vermelhas estadunidenses; 3. a fase revolucionária em que as burguesias, enriquecidas com a acumulação realizada na primeira fase, resolveram eliminar a ordem política aristocrática-colonial com o propósito de moldarem por elas mesmas os arranjos institucionais e legais da civilização burguesa; 4. a fase da decadência burguesa,
em que esta deixa de ser politicamente revolucionária; 5. a fase do ultraimperialismo americano, a atual.
Se se consideram essas cinco fases, fica patente que a transversalidade do saqueio colonial é parte estrutural da civilização burguesa. A esse respeito, Rosa Luxemburgo de A acumulação do capital (1913), em interação crítica com o volume II e III de O capital, de Karl Marx, foi precisa ao salientar que capitalismo não funciona apenas por meio de suas categorias imanentes. Se a estrutura da civilização burguesa pressupõe o Departamento I, que são os meios de produção; e o Departamento II, que são os meios de circulação e consumo, o terceiro Departamento, não previsto por Marx, seria: o imperialismo.
Nesse contexto, o imperialismo pode ser definido como um metacapitalismo que surge precisamente no período de decadência da civilização burguesa, a fase 4, que durou, tendo como referência a França, do início da Restauração, 1814, até 1860, data a partir da qual se dá o início da fase interimperialista, responsável pela Primeira Guerra Mundial, indo até o final da Segunda Guerra Mundial, quando emerge o ultraimperialismo americano.
O imperialismo, nesse contexto, é a consciência burocrática de que o capitalismo não funciona por conta própria, pois necessita da transversalidade do saqueio colonial. Sua função é controlar regiamente a divisão de trabalho implicada com o Departamento I ( apenas o centro do sistema pode desenvolvê-lo, liderando o avanço técnico-científico) e o Departamento II ( que pode estar presente, não sem hierarquias e tutelas, na periferia do sistema-mundo). Como Departamento III, o imperialismo assume a tarefa de administrar o capitalismo, atualizando permanentemente a primeira fase da civilização burguesa, a da formação primitiva do capital, tendo em vista o estatuto colonial-escravista.
Uma instigante teórica sobre o imperialismo, ao menos em sua produção intelectual que vai de 1941 a 1946, Hannah Arendt, salientava, em 1946, que o imperialismo era ao mesmo tempo o poder pelo poder, a expansão pela expansão e o racismo pelo racismo, identificando sem meias palavras o antissemitismo ao terceiro Reich e à expansão colonial imperialista, perspectiva que ela abandou totalmente após ter adquirido a nacionalidade americana, em 1951, não sendo mera coincidência que a sua data de batismo para ultraimperialismo americano seja também a data de publicação de Origens do totalitarismo (1951), livro no qual, como traição a tudo que escrevera antes, o totalitarismo, ao invés de ser o nome comum da expansão colonialista ocidental-americana, passa a dizer respeito a uma suposta semelhança do mal absoluto, como natureza de certos humanos, entre Hitler e Stalin.
É nesse sentido que o I Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, assume a tarefa
de convidar a comunidade acadêmica nacional e internacional para discutir as seguintes questões: 1. Se o conflito fundamental da civilização burguesa se dá entre a Metrópole e o terceiro mundismo ou entre o imperialismo e a independência econômica e politica das colônias, quais críticas poderiam ser feitas às teorias acadêmicas em voga como os Estudos Culturais, o multiculturalismo, o pós-colonialismo, o decolonialismo, sem deixar de considerar vertentes críticas como as do liberalismo de gênero, étnico, dentre outras? Essas teorias são realmente as que vocalizam a centralidade do saqueio colonial? É possível justiça econômica, étnica e de gênero estando sob o domínio colonial do imperialismo de plantão? Quais as diferenças existentes entre a fase interimperialista da civilização burguesa relativamente à atual, a do ultraimperialismo americano? Que relação tem a Guerra Fria com os estereótipos dominantes em todas as áreas de conhecimento? Como a Guerra Fria, a única guerra realmente vencida por Estados Unidos, moldou o pensamento, a cultura e a práxis contemporânea? Como a Guerra Fria está presente nos atuais modos de ser do marxismo oriental?
Tendo em vista a comemoração dos 200 anos de nascimento de Karl Marx, que nasceu em 5 de maio de 1818 e os 128 anos de nascimento de Oswald de Andrade, este Primeiro Congresso Internacional Literatura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional, além de ser uma homenagem ao pensador alemão, propõe-se a ser também uma reflexão sobre os efeitos positivos e muitas vezes imprevistos de sua teoria. Um dos efeitos ou espectros de Marx ocorreu precisamente com a proposta antropofágica de Oswald de Andrade, formulada pela primeira vez em 1928, com o “Manifesto antropófago”, ensaio no qual o conflito entre imperialismo e independência nacional começa a se esboçar de forma extraordinária, até encontrar uma formulação mais madura nos romances Marco zero i, A revolução melancólica (1943) e Marco zero II, Chão(1945), sem contar os ensaios “A Arcádia e a inconfidência” (1945) e “Crise da filosofia Messiânica (1950)”.
Os dois romances da década de 40, de Oswald de Andrade tem como plasmação política/formal o problema da independência do Brasil, na contramão do saqueio colonial e dos imperialismos inglês, japonês, italiano, estadunidense. Por sua vez, os dois ensaios referidos, “A Arcádia e a Inconfidência” e “Crise da filosofia messiânica”, de forma extraordinária realizam a crítica da crítica da economia política estética brasileira tendo em vista a centralidade da independência nacional ( residindo aí o elogio à Inconfidência Mineira e a negação dos árcades) em face do colonialismo/imperialismo e, também, se se considera o segundo ensaio, a crítica da crítica da economia política do próprio marxismo ocidental, cujo messianismo, em crise ( ainda hoje, sempre) tende a ignorar precisamente o que importa: o saqueio colonial.
A expressão “espectros de Marx”, sob esse ponto de vista, presente no título deste Congresso, tem relação com esses imprevistos da teoria marxista, que ocorreram de forma criativa, altiva e imprevista na vitória revolução Russa, de 1917, absolutamente imprevisível, para o marxismo ocidental, no seu impacto no processo de descolonização nacional africana e asiática e também, dentre outros exemplos, na proposta antropofágica, no campo da cultura brasileira, formulada por Oswald de Andrade, por meio da seguinte síntese: “Só a antropofagia nos une...”.
Especificamente, no entanto, o motivo do uso da expressão “os espectros de Marx’ tem a ver com o livro Os espectros de Marx (1994), de Jacques Derrida, considerando, por exemplo, a seguinte passagem: “[...] este algum outro espectral nos olha; sentimo-nos olhados por ele, fora de toda sincronia, antes mesmo e para além de nossa parte, segunda uma anterioridade ( que pode ser da geração, de mais de uma geração) e uma dissemetria absolutas, segundo uma desproporção absolutamente incontroláveis. A anacronia faz a lei aqui (DERRIDA, 1994, p. 22)”.
Ora, “a anacronia que faz a lei aqui”, resistindo à subsunção geral do processo do trabalho humano, não será precisamente, na atualidade, a paridade de armas alcançada por Rússia e China, relativamente à OTAN e aos Estados Unidos? Como pensar essa paridade de armas no contexto de uma crítica da economia política estética do realismo literário possível, no contemporâneo, quando prioriza a plasmação literária tendo em vista o seguinte conflito de base na atualidade: ultraimperialismo americano e independência político-econômica das colônias de todo o planeta?
Pergunta que marca o desafio do novo realismo brasileiro, mundial, e que tem como referência o seguinte desafio: “Colonizados do mundo, uni-vos!”
OBJETIVOS
1. GERAIS E ESPECÍFICOS
Se uma literatura revolucionária pode ser definida como o suporte textual de um processo que, em perspectiva, problematiza e destitui o aparelho de Estado, tendo em vista a compreensão crítica de que este, no âmbito da civilização burguesa, limita, domestica e inviabiliza a potência laica da e na criação, quando instigada pelo protagonismo dos povos, este Primeiro Congresso InternacionalLiteratura e revolução: os espectros de Marx e o realismo estético – imperialismo e independência nacional procura problematizar essa perspectiva ocidental para reafirmar outra, a independência nacional ( logo um Estado forte, dos trabalhadores) em face do sistema colonial europeu e estadunidense, sem deixar de considerar a fase interimperialista e ultraimperialista da dominação
ocidental e seus saqueios permanentes dos Estados Nacionais colonizados. Nesse contexto, se os três axiomas do realismo, aqui propostos, estão implicados com afirmação do devir histórico, com a emergência da luta de classes e com a escolha acertada do conflito que realmente importa, é objetivo deste Congresso pensar o realismo tendo em vista a relação entre colonialismo/imperialismo/ultraimperialismo versos independência nacional.
SIMPÓSIOS E COMUNICAÇÕES À TARDE.
RESUMOS
Jörg Nowak ( University of Nottingham)
The ultimate political consequence of the great financial crisis is the retreat into and renewal of the national imperialist state, centred around an authoritarian-nationalist project. Nevertheless, this ‘return of the state’ that was never absent is deeply embedded into the neoliberal form of today´s global capitalism. It pretends to cater to working class interests of its citizens to some bigger extent; but this remains largely a symbolic gesture. This fake interpellation of the national proletariat – not much unlike classical fascism – is accompanied by a profound political weakness and instability of these regimes. While this tendency itself seems to be a global phenomenon, it is at the same time fraught with the challenge to establish an economic nationalism in the framework of a globally interconnected capitalism, thus placing an enormous contradiction in the heart of this very tendency.Not only are they haunted by their promises of welfare and employment, they also are confronted with deeply divided and fragmented state apparatuses in which different state agencies pursue radically different strategies. The splits within state elites and state apparatuses are profound and radical.
Thus, the national imperialist projects are fraught with the paradox that renationalization is no viable option on the economic plane, but part of the elites feel they need national rhetoric in order to tie the middle classes to the existing economic order. The move to engage in large infrastructure projects seems to represent a rather desperate attempt to relieve some of the political and economic deadlocks than a viable long-term project of accumulation and political rule. It remains to be seen if socialdemocratic or more radical left movements are able to offer another way out of those impasses. But it is obvious that political tensions and economic bottlenecks are rather increasing.
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